Longo tempo como um consumidor sem crédito

Imagem: Divulgação
O título aí em cima diz tudo: O meu calvário por longos anos com o nome negativado nos órgãos reguladores de crédito. Provavelmente muitos que lerem este post poderão se identificar comigo, por terem passado pelos mesmos problemas que eu, após a inclusão do CPF na SERASA, SPC, entre outros órgãos, por não ter conseguido saldar determinado(s) compromisso(s) financeiro(s). Para tanto, contarei um resumo de minha vida financeira para ilustrar esta postagem.

Nos primeiros anos deste século, entrei em um processo de endividamento devido a uma série de fatores que culminaram com minha inadimplência junto ao mercado financeiro. Apesar de grande parte destes fatores estarem relacionados a situações externas que provocaram um efeito dominó devastador em meu crédito, sou forçado a reconhecer que o maior responsável tenha sido eu mesmo, por não saber me organizar e me prevenir contra as alterações financeiras recorrentes na economia brasileira.

O certo é que, por quase cinco anos de negativação, deixei de ser um consumidor ativo, que compra por necessidade e também às vezes por compulsão. Sem crédito não se tem sonhos de aquisição, pois se torna praticamente impossível adquirir quaisquer bens de consumo a prazo. Deste modo tudo que vier a adquirir, tem que já possuir montante financeiro para pagamento à vista.

Negativado, o consumidor tem que se tornar bastante conservador em sua organização financeira. Pois cada passo que for necessário a dar, deve já estar devidamente amparado no campo econômico. Entre outras palavras: tem que ter dinheiro no bolso para tudo.

Mas como eu tenho como hábito de tentar achar uma lição de todos os acontecimentos de minha vida, estes anos serviu como uma escola para aprender a ser mais organizado com relação ao meu dinheiro. Para isso me despi do principal mal que acomete a qualquer consumidor, que é o ‘ímpeto de querer’.

O ímpeto de querer é que nos faz gastadores. E eu sabia que deveria direcionar todos os meus ganhos para a recuperação de meu nome, e não para alimentar este meu ímpeto. Então, durante longos cinquenta e poucos meses, trabalhei para saldar meus compromissos. Queria saldar todos antes de completar cinco anos, que era o tempo por lei que uma dívida leva para prescrever nos órgãos reguladores de crédito. E consegui isso no “bater do sino”. Faltando pouco menos de três meses para a prescrição de meus débitos, consegui resgatar meu nome.

Com o nome limpo novamente, os mesmos agentes financeiros aos quais eu era cliente retornaram meu crédito. Voltei a ter cheque especial, crédito pré-aprovado em conta corrente e cartão de crédito. Este último eu considero imprescindível para qualquer consumidor.

Mas já se imaginou dono de um automóvel Ferrari potente, porém morando em um local onde só houvesse estrada de chão batido, onde seria impossível explorar toda a potência do motor? Ou seja, não ter condições de usar plenamente aquela máquina que adquiriu?

Assim aconteceu comigo. A rigidez com que me eduquei durante os anos negativado fez extinguir meu ímpeto de querer. Habituei-me a não ser imediatista e de maneira metódica trabalhava para adquirir minhas necessidades. Com isso, cheque especial e crédito pré-aprovado não me seduziam mais, sendo assim, eu tinha esses dois, mas eles não eram mais uma realidade necessária em minha estrada de chão batido. Apenas o cartão de crédito, que como escrevi acima considero um bem imprescindível, se tornou meu companheiro inseparável em minha carteira. E assim vivi por alguns poucos meses, até sucumbir ao apelo de um amigo, que na época não consegui dizer um “não”, e emprestei meu nome para que ele pudesse lançar mão de meu crédito.

Lendo essas linhas acredito que novamente muitos leitores se identificarão comigo, não é mesmo? E o resultado previsível de ceder meu nome a esse amigo foi que ele arruinou meu nome. Novamente me vi detentor de uma dívida astronômica, só que dessa vez o resgate dela era algo inalcançável para mim. Além do fato de que não era uma dívida que eu havia constituído para mim, apesar de ser totalmente responsável por ela. Outro efeito em cascata derrubou meu crédito e levou até mesmo meu cartão, pois os pagamentos das faturas estavam condicionadas ao saldo em conta corrente e a mesma encontrava-se com uma grande pendência.

Dessa vez não consegui quitar a dívida antes de sua prescrição. E é bom lembrar que a prescrição de uma determinada dívida junto aos órgãos reguladores de crédito não implica que ela deixou de existir. Somente depois de quase um ano após a prescrição, e através de um acordo realizado junto ao agente credor, consegui pagar meus débitos. E novamente pude sonhar com a possibilidade de contar novamente com um cartão de crédito.

E foi e é o cartão de crédito o único meio que pretendia lançar mão novamente no mercado financeiro. Não queria e nem quero mais saber de cheques e nem de crédito pré-aprovado para financiamentos, pois somados tantos anos de negativação, descobri que não preciso mais deles para crescer e sobreviver economicamente.

Porém, após tanto tempo negativado, meu score se encontrava baixíssimo, e mesmo com o nome limpo, convivi por vários meses com a recusa em todas as propostas de obtenção de um cartão de crédito.

Para contornar este problema, comecei a trabalhar um modo de melhorar meu score, até ele alcançar um grau que possibilite a diminuição de meu risco junto a alguns agentes financeiros. Novamente tive que lançar mão da paciência nesta empreitada, pois o score não é algo que se altera da noite para o dia, pelo menos não quando se pretende aumentá-lo. Tenho conseguido sua melhora de modo gradativo, graças ao meu conservadorismo adquirido nos tempos em que estive negativado, procurando não adquirir um endividamento. E quando ele se torna necessário, procuro saldá-lo rigorosamente em dia.

Na próxima postagem irei escrever sobre minha aprovação no Nubank, que propiciou o resgate de minha autoestima no aspecto financeiro.

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